Quando trabalhamos música com as crianças, sempre pensamos nas famosas e polêmicas apresentações de final de ano. E muitas perguntas surgem por conta disso: o que apresentar... como apresentar... os numerosos ensaios... os tímidos... os especiais... as crianças muito agitadas... apresentações formais ou informais ... vivências ou apresentações .... Enfim, são inúmeras as questões que surgem relacionadas a esse tema.
Então pensei em ponderar sobre algumas dessas questões e suas implicações para a escola, os professores, pais e crianças.
A apresentação, a princípio, faz parte da educação musical porque a música é um evento social, que envolve aquele que a produz (seja tocando ou cantando) e aquele que a desfruta: o ouvinte. Há quem diga que gosta de cantar ou tocar para si, não fazendo questão de mostrar a ninguém a sua experiência musical. Mas, quando falamos em educação musical, estamos falando de escola, especializada em música ou não. Na escola temos a preocupação com um fazer coletivo, com um fazer compartilhado e não com uma produção individual. Sabemos que é no coletivo que as crianças aprendem, que se desenvolvem, que encontram apoio para as suas dificuldades e que podem também ser solidárias e contribuintes com a dificuldade do outro.
Quando pensamos em apresentações musicais, nos vem à cabeça sempre aquela situação muito formal, onde o aluno não pode errar ou esquecer a letra de uma música ou onde tudo tenha que sair perfeitamente, sem nenhuma falha. Isso ainda acontece e tem um peso enorme sobre quem tem que se apresentar. Me lembro de querer, inúmeras vezes, parar de estudar música só para não ter que passar por essa situação. Acabei, inclusive, deixando de tocar piano por conta disso: tudo para não ter que me expor! Quando me tornei professora de música, atuando com crianças, isso ficou sempre muito claro para mim: nunca cobrar de meus alunos essa rigidez!
Mas, e as apresentações? Como fazer uma apresentação que seja prazerosa tanto para os alunos quanto para o público? Como olhar para a apresentação como parte do processo de educação musical? Como valorizar os ensaios e torná-los realmente produtivos e não uma repetição maçante e sem sentido? Como escolher uma forma interessante e adequada a cada conteúdo ou estudo que se quer apresentar?
Discorrendo sobre cada uma dessas questões:
1) Como fazer uma apresentação que seja prazerosa tanto para os alunos quanto para o público?
As posturas dos professores, de música e de sala, fazem toda a diferença para a produção de uma apresentação, garantindo às crianças a tranquilidade e o prazer de poder se apresentar e isso ser muito bom! Isso acontecerá se todos estiverem de acordo com essa apresentação, principalmente as crianças, que deverão ser consultadas a respeito disso. Ainda podemos envolvê-las no convite aos pais, produzindo, junto com elas, esse convite. Podemos, ainda, apresentar para as outras crianças da escola como uma forma de experimentar a emoção de ter um público.
2) Como olhar para a apresentação como parte do processo de educação musical?
A apresentação é a finalização de um processo de aprendizagem musical, onde um produto final surge como consequência desse aprendizado. Assim, apresentar é finalizar, é compartilhar algo que aprendemos e que gostaríamos de mostrar a pessoas especiais, que fazem parte de nossa vida, sejam amigos ou familiares.
3) Como valorizar os ensaios e torná-los realmente produtivos e não uma repetição maçante e sem sentido?
Durante os ensaios, sempre notamos que existe um certo desconforto por parte de todos da equipe de professores, pela repetição do repertório, da forma como irão se posicionar, da postura para entrar no palco, etc. Os ensaios nada mais são do que a fixação do conhecimento adquirido para que se possa, no momento da apresentação, sentir-se seguro daquilo que se vai mostrar. Se durante os ensaios pensarmos em algumas estratégias que garantam o interesse das crianças, certamente eles ficarão melhores e mais eficientes: convidar outra turma para assistir e dar dicas, filmar e mostrar às crianças para que se avaliem e resolvam o que ainda não está bom, dividir a turma em grupos e um grupo apresentar para o outro... são algumas das muitas ideias que podemos ter para otimizar esses ensaios e envolver as crianças.
4) Como escolher uma forma interessante e adequada a cada conteúdo ou estudo que se quer apresentar?
Então muitas opções surgem como forma de se apresentar: contando uma história que ligue o tema às músicas, mostrando brincadeiras cantadas informalmente, cantando e tocando instrumentos musicais mais formalmente, promovendo uma vivência coletiva, com o público que estiver assistindo, filmar e promover uma sessão de vídeo.
Cada produto se encaixa melhor em uma dessas escolhas e cabe a nós conseguirmos visualizar o que ficaria melhor em cada caso. Acredito, também, que ao pensar no estudo, precisamos pensar também na finalização que gostaríamos de ter para que esse estudo caminhe nessa direção. Nada impede que se mude de ideia no caminho!
Finalizando...
Nada é “assim e pronto”! Tudo pode ser diferente sempre! Mas, o que acho que não é produtivo é ficar reclamando do que se está fazendo, achando que está chato e julgando as dificuldades como um empecilho para continuar... ou exigindo das crianças algo que elas não podem dar naquele momento. Cabe ao professor especialista conhecer a faixa etária e conhecer o grupo com o qual está trabalhando, suas dificuldades, suas especificidades e suas competências para que possa adequar, tanto o estudo quanto a sua finalização, da melhor forma.
Quanto aos primeiros questionamentos desse texto: alunos agitados, alunos especiais, alunos tímidos... O que tenho a dizer é: vamos aprendendo a lidar com isso conforme as coisas vão acontecendo. Os tímidos precisarão de um apoio maior e, talvez, uma parceria com outro colega que possa ajudá-lo a se soltar e a não se sentir tão exposto; os especiais são mesmo especiais e precisamos olhar para cada um de forma diferenciada e decidir, no decorrer das aulas, como resolver cada situação ;as crianças agitadas ... ah! com esses temos que ter paciência e dedicação, tentando sempre mostrar que fazer música é muito bom, que se apresentar é muito gostoso e que, se fizerem o melhor que conseguem, estará tudo bem!
Quando a maré sobe...
Há 2 anos
4 comentários:
Parbéns pela ideia de deixar registrado como vc pensa e como vc trabalha a arte da música.
Texto claro e objetivo.
Me passou uma vontade danada de voltar a trabalhar.
Me identifiquei com seu comentário sobre as apresentações...
Obrigada por escrever sobre seu trabalhocomo prof de música.
Está no caminho certo.
Você é uma excelente professora e passar pra nós suas experiências é muito gratificante....
Parabéns... Estarei
na espera de outros textos.
Adoro seu trabalho,e a maneira como suas aulas são desenvolvidas.
Obrigada Sueli!
Excelente!!!!
Obrigada Genny!
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