Com um novo modelo de cultura do entretenimento, fico pensando em como fazer para sobreviver, de uma forma digna, em minha profissão: a educação musical. O imediatismo absurdo de nossa sociedade virtual não compactua com a tarefa de ensinar! Tudo tem que ser rápido, prazer imediato... Ninguém pode esperar nada... ninguém tem paciência para esperar nada!
Quando pensamos em educação musical, parece que tudo isso fica um pouco fora desse contexto atual de imediatismo. Mas não é assim! Somos pressionados a nos adequar, como se nossa matéria prima, a música, não fosse feita de outro material, que não cabe nessa pressa toda. Para fazer música é preciso tempo, paciência, observação, dedicação. Ensinar, então, torna-se um verdadeiro ato de coragem! Quando me vejo frente a uma turma de crianças esperando que eu ofereça a elas algo muito interessante, sinto a responsabilidade de buscar algo realmente muito interessante e, para isso, tenho que rever todos os meus conceitos encontrando estratégias para ganhar a atenção dessas crianças para algo que não é virtual, que não é descartável, que não acontece de repente e que exige empenho e dedicação.
Nessa realidade onde o lazer é prioridade e onde só somos felizes se fizermos muitas coisas ao mesmo tempo, sem parar para refletir, acabamos sendo engolidos, se nos distrairmos, por um fazer automático, linha de produção, onde o que importa é só o resultado e não o processo. Ora, se como educadores lidamos com o processo, como ficamos nessa história? Somos julgados por aborrecer as crianças com atividades muito difíceis, onde precisem ficar muito tempo concentrados e por não oferecer a eles um tempo de lazer! Mas se o lazer já existe em demasia, temos que poder fazer diferente! Temos que oferecer a oportunidade da reflexão, da conscientização, da apropriação de conhecimentos! Temos que poder educar para ouvir, para respeitar, para participar coletivamente... temos que educar e não apenas proporcionar um prazer imediato, fútil e efêmero!
Parece que todos enlouqueceram de vez! Parece que nós também enlouqueceremos... ou perderemos a vontade de continuar ensinando... ou seremos engolidos pelas demandas de uma sociedade doente... ou nos tornaremos recreacionistas musicais com ótimas formações acadêmicas... que não nos servirão para nada!
Quando a maré sobe...
Há um ano
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