Esse espaço foi criado para refletir sobre educação musical. Sua opinião é muito importante!!! Critique ... elogie ... repense ...

Educação Musical


Esse espaço foi criado para compartilhar opiniões e discussões sobre música com o desejo de encontrar pessoas que, como eu, buscam novas idéias e novos caminhos para a educação musical.
Acredito que experiências compartilhadas são de extrema riqueza para o aperfeiçoamento de cada um de nós, como pessoas e como educadores, responsáveis pela formação de outras pessoas.
A música faz parte de minha vida há muitos anos...na verdade, acho que sempre fez, desde a minha infância! De repente, quase num piscar de olhos, passei de aluna a professora...talvez nem tenha sido uma escolha...acho que fui eu a escolhida! E, a partir desse momento, tornou-se minha profissão... definitivamente!
As experiências foram muitas e muito diferentes umas das outras, o que me fez pesquisar muito, sempre. Fui modificando e construindo o meu perfil...o que tenho hoje...como educadora musical e não mais como pianista ou professora de piano.
Saí das escolas especializadas de música e mergulhei na educação, de corpo e alma!
Há 11 anos trabalho com música em escolas regulares de ensino, com crianças de educação infantil e fundamental I. Travei muitas batalhas comigo mesma para encontrar um caminho que fosse coerente com o que eu pensava sobre o ensino de música para crianças. Deixei muitas certezas de lado...tive muitas angústias...busquei de várias formas "a música" que eu gostaria de ensinar. Não encontrei uma certeza absoluta e nem conquistei definitivamente um caminho. Mas acho que me despojei de "purismos" e de crenças elitistas a respeito da linguagem musical.
Hoje trabalho com projetos e parcerias com outros profissionais da escola. Faço parte de um grupo de estudos sobre educação musical onde buscamos fundamentos para nossas teorias numa busca incessante (e, eu diria, eterna!) de enriquecer nossa formação como educadores musicais.

22:22:00
de Lucia Figueiredo
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sábado, 24 de julho de 2021

 


sábado, 17 de julho de 2021

DO VIRTUAL AO PRESENCIAL

 A pandemia nos pegou mesmo de calças curtas! Ano passado, as aulas de música aconteciam por vídeo e, aos poucos, fomos trocando os vídeos por aulas online. O desafio foi grande quando me deparei com várias questões relacionadas às plataformas que dificultavam o trabalho musical. Cantar em uníssono, tocar juntos.... nada disso era possível diante do delay existente nas plataformas.  Sem contar com dificuldades na conexão, atrasos na execução de vídeos, entre outros problemas que não vou tratar aqui. Enfim, estava diante de um desafio imensurável! 

Meus alunos dos 3os. anos estudaram um pouco sobre Luiz Gonzaga e o baião. Usamos materiais diversos na falta de instrumentos musicais como baldes, colheres de pau, copos plásticos, potes plásticos, latas... enfim, improvisamos bastante! E foi aí que resolvi construir com as crianças um pot pourri de baião, escolhendo 3 músicas (Asa Branca, Baião e Mulé Rendêra) para compor esse arranjo. Depois de apreciadas as canções, apreciamos também vídeos sobre as rendeiras do nordeste e seu trabalho como artesãs, definimos as partes das músicas que iríamos usar em nosso pot pourri.  O arranjo não foi oferecido pronto, mas sim como uma construção que elaboramos juntos, assistindo vídeos, conhecendo instrumentos típicos do baião (zabumba, triângulo, sanfona, agogô) tocados por músicos em vídeos do youtube. Aprendemos alguns ritmos básicos para a zabumba e o agogô, exploramos sons do corpo, sons dos materiais escolhidos e partimos para a produção de nossa música.  Com um balde e duas colheres de pau, sendo uma delas customizada com algodão e tecido para criar uma baqueta diferente, fizemos a base do ritmo do baião. Assim também fizemos com o ritmo no agogô, representado por dois copos plásticos, tocados no mesmo ritmo da zabumba e montamos, aos poucos, o nosso pot pourri. O registro foi muito importante nessa construção coletiva, para a compreensão e memorização do texto e do ritmo. Propus, então,  que registrássemos esse ritmo usando sílabas (cada um escolheu duas) e, depois, optamos pelas sílabas TA e TUM, de forma coletiva. Assim, cada um pôde experimentar o seu próprio registro e compartilhamos as descobertas e criações, validando e combinando uma única forma para que todos pudessem "ler" e executar.  O solo do piano seria executado pelos xilofones mas, virtualmente, isso não foi possível... então foi executado por mim. Ficou assim:


Tocamos, algumas vezes, cada um com seus "instrumentos", microfone desligado, da forma como pudemos fazer online. Pequenos solos, muitas vezes um pouco tímidos, mas todos querendo partcipar e produzir o seu baião. Esse estudo durou 3 meses e tudo foi feito no tempo certo, sem pressa, para que cada criança pudesse realmente produzir o seu ritmo e o seu registro de forma significativa. No início de junho voltamos para a escola, de forma presencial e, em nosso primeiro encontro, sugeri que tocássemos todos juntos, pela primeira vez. As crianças apresentaram o pot pourri inteiro, completamente compreendido, tanto o canto quanto o acompanhamento instrumental! Viva! Nosso pot pourri nasceu presencialmente naquele momento e foi uma alegria imensa assistir ao resultado de nosso esforço, de nosso trabalho! Ficamos orgulhosos do que produzimos! As crianças quiseram tocar várias vezes,  numa comemoração ao reencontro com os colegas, com a interpretação coletiva, com a alegria de tocar e cantar juntos de novo! Valeu a pena.... valeu muito a pena! Nós nos superamos, nós nos unimos para produzir juntos, porém cada um em sua casa! Nós aceitamos o desafio e conquistamos esse aprendizado que ficará para sempre! 



UMA EXPERIÊNCIA COM A LIS - O PAU DE CHUVA

Sugeri para minha neta Lis, de 4 anos, que construíssemos um pau de chuva, instrumento musical que conheceu na escola, em sua aula de musicalização em atividade de sonorização de uma canção. Separei o material, levei em sua casa e notei que ela não demonstrou muito interesse, a princípio, quando preparei os tubos de papelão para a construção. Percebendo que estava muito interessada em encher um potinho com água da pia, carregando de lá pra cá, tentando não derrubar a água. Então mudei minha tática drasticamente! Disse a ela: você quer colocar os feijões dentro dos tubos? E ela, prontamente, topou, colocando os feijões, derrubando alguns no chão e pegando, um a um e colocando dentro dos tubos. Fechei com a mão uma das extremidades (a outra já estava fechada) e virei, perguntando se ela achava que tinha som de chuva! Não, não tinha, ela afirmou. Então sugeri: que tal se colocarmos esse arame torcido dentro dos tubos? Vamos experimentar? Retiramos os feijões, colocamos o arame em forma de mola e recolocamos os feijões! Sua atenção era plena e estava muito envolvida e curiosa! Então veio a mágica, ao virarmos o tubo novamente! Com gritinhos de euforia, ela constatou que agora sim, tinha som de chuva! Então eu perguntei: por que agora tem som de chuva? Ela me disse: o arame fez isso! Sim, o arame fez isso mesmo, eu disse! Porque agora os feijões batem nele antes de cair... e fiz um movimento de espiral com as mãos! Que maravilha! Ela agora queria ver o pau de chuva pronto e usá-lo com muito interesse! Então partimos para sonorizar a canção, já conhecida dela, onde teríamos vários sons: abrir e fechar a janela, canto dos passarinhos, rio passando sob uma ponte, trovões e, finalmente, a chuva! Mas, os únicos materiais que tínhamos em mãos era um pote de toddy vazio, uma vareta de churrasco, um pote plástico de sorvete e feijões! Então, como já tínhamos usado um reco reco na escola para "abrir e fechar" a janela, sugeri o reco reco de pote de toddy (que, aliás, já tinha até ido pro lixo!). O som dos passarinhos saiu como um canto lindo na voz de uma menina de 4 anos! E o rio? E agora? Sugeri que colocasse os feijões dentro do pote de sorvete e mexesse com suas mãos. Ela experimentou, primeiro bem forte, depois foi acalmando os movimentos e... ouvimos o som do rio! Trovões vieram de sua voz também, em forma de "POW POW" muito fortes.... E finalmente chegou o momento tão esperado: o solo do pau de chuva! Que alegria cantar pra ela e ver que estava tão prazerosamente produzindo os sons sozinha! Cantei outra canção que mencionava pingos de chuva... e ela, mexendo as mãozinhas no feijão (que sensação deliciosa mexer em grãos num pote!), começou a soltar um por um... e os pinguinhos soaram lindamente nas mãos da Lis, tão envolvida e contente com suas descobertas! Assim foi nossa tarde de ontem... leve, descontraída, respeitando o tempo e o interesse de uma criança! Tenho certeza que muitos potes deixarão de ir pro lixo e que muitas outras descobertas virão!

sábado, 15 de abril de 2017

Educação Musical ... cultura ou entretenimento?

Com um novo modelo de cultura do entretenimento, fico pensando em como fazer para sobreviver, de uma forma digna, em minha profissão: a educação musical. O imediatismo absurdo de nossa sociedade virtual não compactua com a tarefa de ensinar! Tudo tem que ser rápido, prazer imediato... Ninguém pode esperar nada... ninguém tem paciência para esperar nada! Quando pensamos em educação musical, parece que tudo isso fica um pouco fora desse contexto atual de imediatismo. Mas não é assim! Somos pressionados a nos adequar, como se nossa matéria prima, a música, não fosse feita de outro material, que não cabe nessa pressa toda. Para fazer música é preciso tempo, paciência, observação, dedicação. Ensinar, então, torna-se um verdadeiro ato de coragem! Quando me vejo frente a uma turma de crianças esperando que eu ofereça a elas algo muito interessante, sinto a responsabilidade de buscar algo realmente muito interessante e, para isso, tenho que rever todos os meus conceitos encontrando estratégias para ganhar a atenção dessas crianças para algo que não é virtual, que não é descartável, que não acontece de repente e que exige empenho e dedicação. Nessa realidade onde o lazer é prioridade e onde só somos felizes se fizermos muitas coisas ao mesmo tempo, sem parar para refletir, acabamos sendo engolidos, se nos distrairmos, por um fazer automático, linha de produção, onde o que importa é só o resultado e não o processo. Ora, se como educadores lidamos com o processo, como ficamos nessa história? Somos julgados por aborrecer as crianças com atividades muito difíceis, onde precisem ficar muito tempo concentrados e por não oferecer a eles um tempo de lazer! Mas se o lazer já existe em demasia, temos que poder fazer diferente! Temos que oferecer a oportunidade da reflexão, da conscientização, da apropriação de conhecimentos! Temos que poder educar para ouvir, para respeitar, para participar coletivamente... temos que educar e não apenas proporcionar um prazer imediato, fútil e efêmero! Parece que todos enlouqueceram de vez! Parece que nós também enlouqueceremos... ou perderemos a vontade de continuar ensinando... ou seremos engolidos pelas demandas de uma sociedade doente... ou nos tornaremos recreacionistas musicais com ótimas formações acadêmicas... que não nos servirão para nada!

Tocatta e Fuga: Educação Musical ... cultura ou entretenimento?

Tocatta e Fuga: Educação Musical ... cultura ou entretenimento?

APRESENTAÇÕES MUSICAIS: EXPOSIÇÃO OU COMPARTILHAMENTO?

Quando trabalhamos música com as crianças, sempre pensamos nas famosas e polêmicas apresentações de final de ano. E muitas perguntas surgem por conta disso: o que apresentar... como apresentar... os numerosos ensaios... os tímidos... os especiais... as crianças muito agitadas... apresentações formais ou informais ... vivências ou apresentações .... Enfim, são inúmeras as questões que surgem relacionadas a esse tema. Então pensei em ponderar sobre algumas dessas questões e suas implicações para a escola, os professores, pais e crianças. A apresentação, a princípio, faz parte da educação musical porque a música é um evento social, que envolve aquele que a produz (seja tocando ou cantando) e aquele que a desfruta: o ouvinte. Há quem diga que gosta de cantar ou tocar para si, não fazendo questão de mostrar a ninguém a sua experiência musical. Mas, quando falamos em educação musical, estamos falando de escola, especializada em música ou não. Na escola temos a preocupação com um fazer coletivo, com um fazer compartilhado e não com uma produção individual. Sabemos que é no coletivo que as crianças aprendem, que se desenvolvem, que encontram apoio para as suas dificuldades e que podem também ser solidárias e contribuintes com a dificuldade do outro. Quando pensamos em apresentações musicais, nos vem à cabeça sempre aquela situação muito formal, onde o aluno não pode errar ou esquecer a letra de uma música ou onde tudo tenha que sair perfeitamente, sem nenhuma falha. Isso ainda acontece e tem um peso enorme sobre quem tem que se apresentar. Me lembro de querer, inúmeras vezes, parar de estudar música só para não ter que passar por essa situação. Acabei, inclusive, deixando de tocar piano por conta disso: tudo para não ter que me expor! Quando me tornei professora de música, atuando com crianças, isso ficou sempre muito claro para mim: nunca cobrar de meus alunos essa rigidez! Mas, e as apresentações? Como fazer uma apresentação que seja prazerosa tanto para os alunos quanto para o público? Como olhar para a apresentação como parte do processo de educação musical? Como valorizar os ensaios e torná-los realmente produtivos e não uma repetição maçante e sem sentido? Como escolher uma forma interessante e adequada a cada conteúdo ou estudo que se quer apresentar? Discorrendo sobre cada uma dessas questões: 1) Como fazer uma apresentação que seja prazerosa tanto para os alunos quanto para o público? As posturas dos professores, de música e de sala, fazem toda a diferença para a produção de uma apresentação, garantindo às crianças a tranquilidade e o prazer de poder se apresentar e isso ser muito bom! Isso acontecerá se todos estiverem de acordo com essa apresentação, principalmente as crianças, que deverão ser consultadas a respeito disso. Ainda podemos envolvê-las no convite aos pais, produzindo, junto com elas, esse convite. Podemos, ainda, apresentar para as outras crianças da escola como uma forma de experimentar a emoção de ter um público. 2) Como olhar para a apresentação como parte do processo de educação musical? A apresentação é a finalização de um processo de aprendizagem musical, onde um produto final surge como consequência desse aprendizado. Assim, apresentar é finalizar, é compartilhar algo que aprendemos e que gostaríamos de mostrar a pessoas especiais, que fazem parte de nossa vida, sejam amigos ou familiares. 3) Como valorizar os ensaios e torná-los realmente produtivos e não uma repetição maçante e sem sentido? Durante os ensaios, sempre notamos que existe um certo desconforto por parte de todos da equipe de professores, pela repetição do repertório, da forma como irão se posicionar, da postura para entrar no palco, etc. Os ensaios nada mais são do que a fixação do conhecimento adquirido para que se possa, no momento da apresentação, sentir-se seguro daquilo que se vai mostrar. Se durante os ensaios pensarmos em algumas estratégias que garantam o interesse das crianças, certamente eles ficarão melhores e mais eficientes: convidar outra turma para assistir e dar dicas, filmar e mostrar às crianças para que se avaliem e resolvam o que ainda não está bom, dividir a turma em grupos e um grupo apresentar para o outro... são algumas das muitas ideias que podemos ter para otimizar esses ensaios e envolver as crianças. 4) Como escolher uma forma interessante e adequada a cada conteúdo ou estudo que se quer apresentar? Então muitas opções surgem como forma de se apresentar: contando uma história que ligue o tema às músicas, mostrando brincadeiras cantadas informalmente, cantando e tocando instrumentos musicais mais formalmente, promovendo uma vivência coletiva, com o público que estiver assistindo, filmar e promover uma sessão de vídeo. Cada produto se encaixa melhor em uma dessas escolhas e cabe a nós conseguirmos visualizar o que ficaria melhor em cada caso. Acredito, também, que ao pensar no estudo, precisamos pensar também na finalização que gostaríamos de ter para que esse estudo caminhe nessa direção. Nada impede que se mude de ideia no caminho! Finalizando... Nada é “assim e pronto”! Tudo pode ser diferente sempre! Mas, o que acho que não é produtivo é ficar reclamando do que se está fazendo, achando que está chato e julgando as dificuldades como um empecilho para continuar... ou exigindo das crianças algo que elas não podem dar naquele momento. Cabe ao professor especialista conhecer a faixa etária e conhecer o grupo com o qual está trabalhando, suas dificuldades, suas especificidades e suas competências para que possa adequar, tanto o estudo quanto a sua finalização, da melhor forma. Quanto aos primeiros questionamentos desse texto: alunos agitados, alunos especiais, alunos tímidos... O que tenho a dizer é: vamos aprendendo a lidar com isso conforme as coisas vão acontecendo. Os tímidos precisarão de um apoio maior e, talvez, uma parceria com outro colega que possa ajudá-lo a se soltar e a não se sentir tão exposto; os especiais são mesmo especiais e precisamos olhar para cada um de forma diferenciada e decidir, no decorrer das aulas, como resolver cada situação ;as crianças agitadas ... ah! com esses temos que ter paciência e dedicação, tentando sempre mostrar que fazer música é muito bom, que se apresentar é muito gostoso e que, se fizerem o melhor que conseguem, estará tudo bem!

Tocatta e Fuga: APRESENTAÇÕES MUSICAIS: EXPOSIÇÃO OU COMPARTILHAMENTO?

Tocatta e Fuga: APRESENTAÇÕES MUSICAIS: EXPOSIÇÃO OU COMPARTILHAMENTO?

sábado, 20 de junho de 2015

APRECIAÇÃO MUSICAL ATIVA - CARNAVAL DOS ANIMAIS (C. Saint Säens)

Apreciar uma música com crianças de 6 e 7 anos de idade requer a elaboração de atividades que possam conduzi-la a ouvir atentamente, despertando seu interesse para a escuta. Uma peça musical instrumental é uma forma de escuta diferente daquela que realizamos a partir de uma música com texto e pode ser trabalhada de forma significativa se entendermos que a criança precisa de referências para ouvir. Apreciar uma peça musical vai muito além de ouvi-la em silêncio, sem nada saber dela, sem tecer alguns parâmetros para essa escuta como o nome do compositor, a época e o país onde viveu e outras características mais específicas dessa peça musical. Podemos apreciar desenhando, registrando e criando movimentos corporais que traduzam aquilo que estamos ouvindo. A criança dessa idade já está em processo de alfabetização e as atividades de escrita ou outros registros costumam atrair a sua atenção. Nessa fase e nesse processo geralmente já conseguem usar bem os espaços e os diversos suportes para registrar, assim como já começam a compreender a importância do registro. Nessa questão, o professor de música deve propor diversas atividades onde o registro se torne significativo para cumprir seus objetivos de informar e de preservar. A reflexão sobre o registro é muito importante para a imersão na linguagem musical e sem ela, não teremos grandes progressos. Refletir possibilita, entre outras coisas, compreender, discordar e propor, construindo teias que compõem a aquisição do conhecimento. O compositor francês C. Saint Säens, quando criou sua peça Carnaval dos Animais, pensou nas características de cada animal e transformou essas características em linguagem musical, criando cenas onde podemos imaginá-los numa grande performance. Embora esse trabalho tenha um caráter crítico mais voltado a uma reflexão mais elaborada e difícil para crianças pequenas, não deixa de ser uma possibilidade para a apreciação pelas crianças. O trabalho que realizo com essa peça musical envolve o uso de materiais de apoio como fotos de animais e dos instrumentos usados em cada peça, assim como fotos de cada instrumentista tocando o seu instrumento. Além disso, algumas atividades foram pensadas para que a criança possa refletir sobre a música, sobre cada animal ali representado e sobre o cenário onde acontece cada pequena história. Escolhi algumas peças para esse trabalho: O Cisne, O Cuco, O Canguru, Aquário. A escolha se deu pelas possibilidades pensadas para cada uma delas e pelo tempo de duração do trabalho, não significando que as outras também não possam ser trabalhadas dessa forma. Todo o trabalho envolve um momento de escuta silenciosa e atenta, um momento de conversa e reflexão sobre o que ouvimos, um momento de expressão corporal e um momento de registro. REGISTRO DAS ATIVIDADES O CISNE e AQUÁRIO: desenho cego (de olhos fechados), onde a criança pode transformar o que ouve em movimentos produzidos com um lápis, numa folha de papel em branco. O objetivo é ouvir e perceber as diferentes nuances de andamento, de mudança de timbre ou de caráter, de intensidade. De olhos fechados, a criança deve posicionar o seu lápis no meio do papel e fechar os olhos. A mão deve seguir a música, livremente, de acordo com o que cada um ouve e o desenho terminará quando a música acabar. O CANGURU: registro dos momentos em que o canguru salta e dos "pulos" desse canguru. Os objetivos são: perceber as mudanças de caráter dessa peça. onde o canguru ora pula ora fica atento observando o entorno; produzir um registro próximo ao registro musical específico. A partir da expressão corporal, a criança pode perceber em quantos momentos o canguru salta. Depois disso, com o lápis posicionado no papel, vai registrando os “pulos” desse canguru. A exatidão no número de pulos não é exigida, embora o professor possa comentar que no último momento o canguru pulou mais. Também pode mostrar a partitura musical dessa peça, mostrando os momentos onde o canguru pula e os momentos onde o canguru observa. O CUCO: registro do som produzido pelo clarinete, representando o canto do cuco. O objetivo também é experimentar um registro musical. A questão do registro musical é bem complexa para as crianças que ainda não são alfabetizadas na linguagem musical. É comum a pergunta: como vou desenhar o som? Muitas querem desenhar o animal e é comum que desenhem o animal ou o instrumento e o som saindo deles. Também gostam de desenhar símbolos musicais e pedem um modelo para que possam copiar. Tudo o que possa representar o que se está pedindo é interessante. O que não deve acontecer é o desenho dos animais simplesmente, sem nenhuma ligação com o que se está propondo na atividade. Nesses casos, devemos dar exemplos, sugerir e auxiliar para que possam ir, aos poucos, descobrindo formas de registros musicais.

terça-feira, 3 de abril de 2012

CONVERSAS SOBRE EDUCAÇÃO MUSICAL

LÚCIA FIGUEIREDO: Atualmente se discute muito a inserção da música no currículo escolar, na formação básica. Não existem profissionais especialistas em educação musical em número suficiente para suprir as possíveis vagas de Professor de Música nas escolas públicas, mesmo considerando aqueles com formação técnica. Quais as medidas que vocês acham que devem ser tomadas para que essa iniciativa, mais uma vez, não fique apenas no papel?

TECO GALATI: Mais cursos qualificados de música. Enquanto isso colocar músicos na sala de aula, junto com o professor. O músico sabe música, o professor sabe pedagogia. Um vai aprendendo com o outro enquanto o músico faz licenciatura e o professor estuda música.

LÚCIA FIGUEIREDO: Também acho! E, se não der para colocar um prof de música por sala, que coloquem um por escola, por enquanto, até que as coisas melhorem, vc não acha Teco? Outra solução seria fazer parcerias com escolas de música, cursos técnicos ou licenciaturas, para que possam garantir esse apoio. Poderiam começar com pequenos projetos... puxa, eu vejo tantas soluções viáveis nesse momento. Mas parece que as pessoas, em especial alguns músicos e educadores musicais, preferem ficar "metendo o pau" em tudo, oferecendo soluções radicais e não fazendo nada realmente!

AÍDA MACHADO: é verdade Lucinha, não existem profissionais suficientes e, principalmente, profissionais devidamente preparados. a Faculdade Cantareira tomou a iniciativa de abrir o curso de Pós-graduação em Educação Musical. já estamos na terceira turma e, neste ano, foram mais de 200 inscritos para 45 vagas. o curso recebe não somente pessoas com graduação em música, mas, acima de tudo, profissionais que já trabalham com música e necessitam de aperfeiçoamento, formação técnica e, fundamentalmente, precisam e querem discutir o que significa ou pode significar realmente essa re-inserçao da música na escola. acredito que iniciativas desta natureza dentro das Universidades seja um dos caminhos. afinal, continuamos a nos perguntar "por que ensinar música"... talvez a resposta a essa questão seja o caminho que devemos ou poderemos seguir.

FERNANDO TOMIMURA:Pra discutir: por que ensinar música?

RUBEN SIQUEIRA BIANCHI: Ótima pergunta. E devemos ir adiante:
Ensinar para quem?
Deve ser obrigatório o ensino da música?
E a aprendizagem, também deve ser obrigatória?
Em boa hora surge esse grupo, pois temos muito o que discutir.

LÚCIA FIGUEIREDO: Acho que podemos pensar em muitas razões para ensinar música, mas vou colocar uma que acho muito importante: Ensinar música para estar no mundo de outra forma, tanto quem ensina quanto quem aprende... Acho que a Arte, em geral, e a música, em particular podem nos oferecer essa oportunidade!

FLÁVIA BALLO: Educação musical para instrumentalizar o indivíduo, conscientizar e ampliar a sensibilidade, problematizar acerca de valores e interesses, refletir, enriquecer, integrar, protagonizar, escolher o consumo musical... são inúmeros motivos a favor da educação musical para todos. O povo merece. É direito e temos que fazer. Que ótima iniciativa de criar o grupo, veio na horinha. Boa, Lucinha!!!

REBECA PORTO
: para sensibilização do ser humano, para o contato com a beleza, com o outro ser humano, com a auto-expressão, com a vida musical que existe em cada um de nós!

ANA ELISA MEDEIROS: Desconsiderando o lado prático, da sobrevivência, acho que ensinar música tem a ver com o querer compartilhar nossa paixão, nosso interesse e nossa sensibilidade com os demais. Imagino que a maioria daqueles que hj se dedica ao ensino tenha começado como musicista apaixonado...
Os benefícios para quem estuda com dedicação são inúmeros e transcendem as questões subjetivas como estímulo à criatividade ou desinibição; há o desenvolvimento da coordenação motora e da lateralidade, as relações rítmicas com a matemática e com a silabação das palavras, a contextualização histórica e geográfica dos compositores, enfim, uma grande quantidade grande de conteúdo específico.

LÚCIA FIGUEIREDO: Ruben Siqueira Bianchi, respondendo às suas perguntas...Acho que o ensino da música deve estar inserido no currículo da educação básica sim mas, quanto à aprendizagem, não entendi a sua colocação. Aprender e ensinar são faces de uma mesma moeda e, por isso, temos que pensar no processo ensino>aprendizagem para que tenha sentido. Ninguém só ensina e ninguém só aprende, na verdade. Quem ensina tb aprende e vice-versa, vc não acha? É uma relação dialética entre o professor e o aluno e ambas as tarefas, ensinar e aprender, dependem dessa relação.

RUBEN SIQUEIRA BIANCHI Oi, Maria Lucia Baliero. Que bom ler sua resposta. Vou tentar ser sintético, coisa que não é muito do meu feitio. O ensino musical passou a ser obrigatório em nosso país. Vejo com certa preocupação essa obrigatoriedade. Os recursos são escassos. Não temos condições de colocar profissionais e equipamentos em todas as escolas deste país. Na cidade onde vivo, por exemplo, não há professores de música. Numa surpreendente parceria da Associação de Músicos de Ilhabela com a Secretaria Municipal de Ensino, através de algumas oficinas de capacitação ministradas por moço, com formação em filosofia, os professores de arte estão assumindo as aulas de música nas escolas. Foram uma ou duas tardes de domingo e a promessa de um livro didático que transformaram professores de artes em professores de música. O presidente da Associação dos Músicos de Ilhabela defende essa ideia. Ele argumenta que como música é uma arte, os professores de artes podem dar aulas de música. É o mesmo que dizer que como inglês é uma língua estrangeira, e francês também o é, que um professor de inglês está plenamente capacitado a dar aulas de francês.
oOo
Está claro que não há recursos para uma cidade como a nossa oferecer ensino musical em todas as escolas públicas do município. Por outro lado, poderíamos ter uma escola de música, com alguns professores. Seria um lugar para onde os jovens com vontade de aprender pudessem se dirigir para encontrar profissionais e equipamentos para aprender música. Esse investimento, porém, fica mais difícil no caso do município ser obrigado a oferecer o ensino da música a todos os alunos de todas as suas escolas. E muitos desses alunos não têm vontade de aprender música. Muitos desses alunos iriam às aulas porque elas são obrigatórias.
oOo
O ensino da música no Brasil precisa ser bem debatido. Que bom que podemos fazer isso nesse grupo que está iniciando suas atividades. Porque os caminhos são delineados a partir de reflexão, de projetos criativos, de iniciativas bem sucedidas e da replicação de seus mecanismos, de sua essência.

ENNY PAREJO: Mal tenho tempo de interagir no grupo, mas gosto muito de saber que ele existe. Vejo que este momento é especial para quem tem boas concepções sobre como deve ser ensinada a música na escola. Mas falo de concepções, filosóficas, pedagógicas humanas que possam atender e alimentar o profissional da educação basica que tem tantas carências e que "vira e mexe" é oprimido po rum novo "execute-se" que aterrisa de repente sobre sua cabeça, pode ser um livro, uma capacitação, um novo material didático...etc..etc.. porém o pensar e a autonomia desse profissional fica sempre em segundo plano, isso não pode ser, não pode ser mesmo...

FLÁVIA BALLO: Para ser efetivo, bem feito, com investimentos, qualidade assegurada, etc, etc, etc... primeiro é necessário ser feito. A duras penas, sem o professor ideal, sem material de qualidade. O caminho tem que ser começado, e a música deve estar nas escolas, de qualquer jeito, e em cada lugar, de um jeito mesmo, pelo menos no início. Com certeza o inglês de alguma escola não é muito ideal. É precário, o que resulta nem sempre é significativo... ou a geografia... ou a educação física...

LÚCIA FIGUEIREDO: Concordo com você, Flávia, com respeito a acontecer primeiro e depois ir ficando melhor. Mas nós, educadores musicais, podemos contribuir para que as coisas fiquem melhores logo, lutando por isso mesmo que seja de fora da escola. Explico: podemos criar parcerias com as escolas públicas e implantar projetos, oficinas, palestras... Também podemos investir no professor polivalente para que ele entenda que é diferente "usar a música na escola" de "ensinar música na escola". Usar a música é algo que qualquer pessoa pode fazer, desde que tenha vontade e que tenha alguma intimidade com ela. E isso nós podemos ajudar esse professor a descobrir, dando oficinas para que, inclusive, entendam essa diferença! Mas ensinar música, isso deve ser feito pelo professor de música. E disso não devemos abrir mão. Eu fico bastante perplexa ao ver tantos cursos que estão sendo divulgados para "formar" o professor polivalente, leigo em música, tornando-o apto a ensinar música. Ora, isso é um absurdo! Será que podemos formar alguém leigo em um assunto, em algumas horas ou em alguns dias? Se concordarmos com isso e ficarmos quietos estaremos assumindo que nossa formação e nossa experiência não valem nada!!!
Fora os materiais didáticos que proliferam por aí, anunciando a salvação ... que nós sabemos, muitos não passam de enganação, de material ruim, sem qualidade, que visa dar a "receita do bolo", mas não ensina ninguém a procurar seus próprios caminhos!

LÚCIA FIGUEIREDO: Para refletir:
Será que nós, professores de música, devemos ministrar cursos e oficinas para "ensinar" os professores polivalentes a "ensinar música"? Será que nós, professores de música, devemos produzir material didático para ser usado por esses professores, mesmo sabendo que isso não vai contribuir para uma educação musical de qualidade?
Será que nós, professores de música, devemos incentivar aqueles que produzem esses materiais, sabendo que muitas vezes isso é uma atitude oportunista e que, a longo prazo, produzirá uma educação musical medíocre?


ENNY PAREJO: Penso que existe um nível no qual os professores de classe, polivalentes e até mesmo professores de Educação Artística podem atuar com musica, dentro de suas possibilidades, com a adevida capacitação e numa ótica de formação integral do aluno. Na França por exemplo, os professores tem na formação inicial discipinas ligadas à música que de fato os instrumentalizam para conduzir canções, trabalhos de pesquisa sonora, escuta dos sons do mundo entre outros temas.
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ENNY PAREJO
: Penso que é possivel sim formar esses professores para atuar dessa forma, mas veja bem estou dizendo formar, com cursos de caráter vivencial e reflexivo e não despejar sobre o professor materiais que não fazem qualquer sentido para ele e que ainda por cima ele terá que estudar e compreender sozinho. Esta tem sido a atitude de muitas editoras e de alguns "formadores" mais interessados em vender seus materiais. Como diria Armando Gatti "eu luto por uma tomada de consciência não por uma tomada de poder"
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DIÓSNIO MACHADO NETO: Lúcia, foi justamente essa posição que coloquei quando fui convidado para uma oficina no Centro Paula Souza. A questão é que mesmo se tivéssemos métodos teleguiados eles não seriam autossuficientes, pois a falta da experiência musical seria um entrave capital. Por isso vejo como mais um entulho na curva do rio essa imposição do ensino obrigatório. Não porque a música não se deva ensinar nas escolas, e sim porque não temos material humano suficiente para esse trabalho. Mesmo pensando que as universidades formam bons profissionais eles são insuficientes para abarcar uma rede de ensino continental.

LÚCIA FIGUEIREDO:Mas, Diósnio, se pensarmos em parcerias, em contratação de professores por escola e não por sala... teremos condições de levar adiante essa iniciativa, pelo menos no início, para que não morra novamente no papel! Eu concordo com você em parte mas não acho que nesse momento uma política de "tudo ou nada" seja adequada porque, dessa forma, não estaremos contribuindo em nada para a inserção da música na escola. Eu já trabalho com musica na escola há quase 15 anos e sei o quanto isso é importante!

LÚCIA FIGUEIREDO: Enny, concordo com você e penso que podemos, como professores de música, dar cursos formadores para professores leigos em música mas não com o intuito de torná-los professores de música. Podemos melhorar a forma como as pessoas se apropriam da música, formando repertórios mais interessantes,mas não concordo tb com esses materiais didáticos de péssima qualidade e que não servem pra nada realmente! Mas tb acho que sendo radicais e não concordando com a inserção da música nesse momento, alegando não ter mão de obra especializada, estaremos deixando de acreditar em nosso potencial de batalhar por um lugar nas escolas públicas. Estaremos, sobretudo, mais uma vez, deixando que a música deixe de fazer parte da educação

FLÁVIA BALLO:Além disso tudo falta mão de obra especializada em todas as matérias da escola, e mesmo assim, o ensino delas é obrigatório. Devemos lembrar também que já se canta com as crianças desde sempre, sem especialidade nenhuma, o ensino é sempre de mão dupla, isso é, devemos aprender com cada aluno, ampliar nossa sensibilidade para educar e sim, claro, escolher bons "materiais". Se possível divulgar ao máximo o bom material, elaborar material interessante com cada turma... enfim... TRILHAR no caminho de uma educação musical sonhada por nós e para nós, brasileiros, portadores da melhor música do planeta, e no entanto, maior consumidor de lixo musical. Que dicotomia. Todo mundo merece escolher seu consumo musical, e isso só se faz com educação musical nas escolas.

LÚCIA FIGUEIREDO: Além do mais, a música JÁ está na escola e sempre esteve, com ou sem qualidade.... A diferença é que ao formalizar a inserção, teremos chance de orientar isso, de alguma forma, para que, pelo menos, as crianças escutem música de qualidade. Podemos gerar uma nova discussão aqui sobre o que é música de qualidade, mas, como músicos e educadores musicais sabemos o que é qualidade. Não estou me referindo a estilos, mas sim à qualidade musical que deve existir em qualquer estilo, de qualquer época.

LÚCIA FIGUEIREDO: É verdade, Flávia! Falta mão de obra especializada em qualquer área e na Educação, só podemos formar educadores se estiverem atuando dentro de alguma escola. Também faltam educadores musicais qualificados porque os cursos técnicos ou de licenciatura nem sempre formam bons profissionais também. E trabalhar dentro de uma escola especializada em música é bem diferente de trabalhar dentro de uma escola regular. Assim, mesmo que tivéssemos profissionais da educação musical em número suficiente para trabalhar dentro das escolas, nem todos seriam bons profissionais e todos teriam que aprender muito com os educadores. Assim, por que algumas pessoas são tão radicais em seus julgamentos? Será que temos o poder de tirar a música da escola? Isso é uma ilusão... como eu já disse, ela já está na escola!

quinta-feira, 29 de março de 2012

MÚSICA NAS ESCOLAS... SERÁ QUE É PRA VALER?

A partir de uma alteração na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) – Lei nº 11.769 de 18 de agosto de 2008 – a música passou a ser conteúdo obrigatório em toda a Educação Básica, a partir de 2012. Encontramos, porém, diversas indefinições acerca dessa nova exigência legal. A música será uma disciplina independente ou integrada ao ensino de artes? Quem deverá ministrar as aulas de música, o professor de artes ou o professor polivalente? Quais serão os conteúdos musicais que deverão ser ensinados aos alunos? Essas e muitas outras perguntas certamente povoam a mente de todos os envolvidos nesse assunto, pais, alunos, professores e gestores.
Será uma volta, a música nas escolas? “Volta é retorno a algo já ocorrido. Nesse caso, pode significar o retorno ao Canto Orfeônico, freqüentemente criticado em nossos dias, mas que representou a efetiva inclusão da música no currículo. Não cabe aqui questionar o trabalho proposto por Villa-Lobos, mas parece bastante óbvio que os educadores não querem a repetição daquele modelo didático. Porém, aparentemente, quando a sociedade clama pela volta da música nas escolas, é esse, muitas vezes, o modelo esperado ou subentendido.” (Sobreira, 2008, pag.45)
O percurso percorrido pela música na escola nos aponta um caminho sinuoso e difícil ao longo da história. Ora inserida como canto orfeônico, ora incluída na disciplina “Artes”, ora excluída totalmente do currículo escolar, o ensino de música sempre ficou relegado a um segundo plano dentro das escolas regulares. Ainda é temerário que isso continue acontecendo pela forma como está sendo conduzida essa questão. Marisa Fonterrada, docente do Instituto de Artes da UNESP (SP) e autora do livro “De tramas e fios – Um ensaio sobre música e educação” argumenta que: “embora haja um considerável aumento de iniciativas e bons projetos, ainda não há uma política nacional firmemente sedimentada que ampare o retorno da música às escolas, e nem profissionais habilitados em número suficiente para levar adiante esse projeto.” (Fonterrada apud Sobreira, 2008, pag. 50).
É claro que toda mudança tem um tempo de carência para acontecer realmente e também é compreensível que algumas acomodações se façam necessárias para acolher as novas mudanças. Mas algumas medidas emergenciais precisam ser colocadas em prática para que o projeto seja iniciado e que tenha condições de seguir em frente.
Gostaria de analisar algumas questões que estão diretamente relacionadas a esse assunto. Em pesquisas recentes, pôde-se constatar que o número de licenciados em música atualmente não é suficiente para ocupar as possíveis vagas de professor de música nas escolas públicas. Mesmo considerando aqueles com formação técnica, sobrariam vagas. O profissional licenciado em Educação Artística não tem formação suficiente para ensinar música, já que o currículo desse curso privilegia o trabalho com artes visuais. O professor polivalente, em sua grande maioria, não possui sequer vivências musicais e, portanto, também não tem suporte teórico e prático para assumir as aulas de música. O que fazer para solucionar essa questão? Acredito que posturas radicais não resolverão o problema, mas não podemos desconsiderar o direito dos profissionais (músicos e educadores musicais) de pleitear o seu lugar nas escolas. Então estamos vivendo um impasse: de um lado, os professores polivalentes, com muita angústia e ansiedade por não saberem como resolver a questão que, de certa forma, está em suas mãos; de outro, os profissionais especialistas em música indignados e brigando por seus direitos; no meio, os licenciados em educação artística, assumindo uma função que, se já foi sua um dia, não é mais, já que a “Música” é considerada como uma disciplina específica dentro do campo “Artes” e, portanto, não é de sua competência também.
Podemos fazer uma distinção entre “ensinar música” e “usar a música”, o que, certamente, pode elucidar alguns pontos e chegar a um meio termo nessa discussão. “Ensinar música” é uma tarefa daquele profissional que conhece a linguagem musical, tanto em seus aspectos teóricos, quanto em seus aspectos práticos, inclusive dominando a técnica de tocar algum instrumento musical ou de usar a voz. Segundo Keith Swanwick, inglês, autor do livro “Ensinando Música Musicalmente”, em entrevista para a revista Nova Escola e questionado sobre a necessidade do professor de música ser músico, responde: “Evidentemente, não precisam ser pianistas de concerto. Mas é fundamental saber tocar um instrumento porque isso é muito útil na sala de aula. Ajuda a exemplificar e a responder as dúvidas, entre outras coisas. Além disso, é preciso entender muito bem do assunto, ter conhecimentos de História da Música, saber relacionar diferentes momentos históricos e estilos e construir uma visão crítica sobre o tema.”
“Usar a música” é tarefa de quem quer descobrir meios de fazer isso de forma enriquecedora, aproveitando a música para enriquecer os seus projetos ou simplesmente ouvindo música com seus alunos, em momentos diversos, dentro do cotidiano escolar. Soluções a curto prazo não existem mas podemos vislumbrar algumas formas de melhorar essa situação de passagem, de acomodação do projeto, até que surja alguma “luz no fim do túnel”! Contratar um professor de música para cada escola seria uma forma interessante de proporcionar um apoio ao trabalho do professor polivalente, dando a ele suporte para a escolha do repertório, oferecendo vivências musicais e, portanto, dando segurança a esses professores para que possam lidar com a música de uma forma mais consistente e prazerosa. Outra maneira seria a de estabelecer parcerias entre as escolas públicas regulares e escolas técnicas ou faculdades de música, garantindo a qualidade na execução de projetos voltados à linguagem musical. Em um congresso da ABEM (Associação Brasileira de Educação Musical), em Três Corações (MG), em 2009, pude assistir a apresentações de trabalhos relacionados a isso: escolas de música dando apoio e oferecendo aulas de música para os alunos de escolas regulares que não podiam ou não tinham interesse em contratar o professor especialista.
Continuo acreditando que quem deve “ensinar música” é o profissional de música, conhecedor da linguagem musical e apto a oferecer vivências ricas e interessantes para os alunos. No entanto, não podemos nos deixar contaminar com radicalismos que acabam acontecendo e promovendo ações excludentes com relação aos próprios músicos e educadores que não possuem graduação. Não acredito que seja de forma radical que estaremos contribuindo para encontrar soluções para essa situação! Imaginemos um projeto social como o Olodum, no Rio de Janeiro, tendo que substituir seus músicos por licenciados em música!
Os problemas são muitos, as polêmicas também, mas, enquanto isso tudo não se resolve, podemos buscar algumas soluções para que a iniciativa não seja em vão e para que esse projeto não aconteça, mais uma vez, apenas no papel.



REFERÊNCIAS

http://revistaescola.abril.com.br/arte/fundamentos/entrevista-keith-swanwick-sobre-ensino-musica-escolas-instrumento-musical-arte-apreciacao-composicao-529059.shtml

SOBREIRA, Sílvia. Reflexões sobre a obrigatoriedade da música nas escolas públicas. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 20, 45-52, set. 2008.

sábado, 16 de julho de 2011

PARCERIAS E PROJETOS NA EDUCAÇÃO MUSICAL O profissional especialista e o professor polivalente

O profissional especializado quase sempre é um solitário dentro das escolas. O seu trabalho, por ser específico, é pouco compreendido e valorizado pela equipe docente. Assim acontece com a música, com a educação física, com as artes plásticas e visuais, com o circo, com o teatro. Só se compartilha o que está acontecendo quando tem uma exposição, uma apresentação, uma competição. De um lado, o professor especialista trabalhando sozinho, refletindo e agindo como se não fizesse parte de uma equipe; de outro lado, os outros professores, também deixando de incluí-lo como parte da equipe. Assim, profissionais que trabalham dentro de um mesmo espaço físico e educativo não interagem, deixando de compartilhar idéias e projetos que poderiam acrescentar muito à educação, de uma forma geral. Esse cenário, onde o professor especialista trabalha sozinho, é muito comum dentro das escolas regulares.
A música, mais que uma disciplina específica, pode transitar entre diversos conteúdos e, longe de deixar seus conteúdos específicos de lado, pode trabalhá-los dentro de contextos mais amplos, incluindo-se em alguns eixos trabalhados e sugeridos pelos RCN’s* e PCN’s**: linguagem oral e escrita, conhecimento de mundo, natureza e sociedade, para a educação infantil e meio ambiente, pluralidade cultural, língua portuguesa, para o ensino fundamental, só para citar alguns.
Durante muito tempo a música esteve fora do currículo escolar e agora, com seu possível retorno às escolas regulares, tem se discutido muito sobre como incluí-la realmente. O que muda no cenário da educação musical é o contexto onde esse ensino acontece e acontecerá e, tratando-se de escolas regulares e não de escolas especializadas em música, todo o conteúdo musical terá que ser repensado para que possa acontecer de forma interessante.
Em educação musical temos muitas vertentes na concepção do que seria “educar musicalmente” uma criança. Através de pesquisas e estudos, cada educador pode escolher aquela ou aquelas que mais se relacionam com o que pensa sobre uma educação musical de qualidade. De qualquer forma, o que não se pode esquecer é que essa educação estará acontecendo dentro de uma escola regular e isso faz toda a diferença. A escola especializada em música, por mais que tenha a preocupação de oferecer um ensino amplo, priorizando vivências musicais diversas, tem o compromisso de ensinar técnicas musicais específicas de algum instrumento musical. Também lida com um público diferenciado porque, se está lá, de alguma forma prioriza a educação musical e tem interesse em tocar algum instrumento musical, mesmo que isso, em longo prazo, não aconteça realmente. A educação musical na escola regular tem que fazer parte de um contexto educacional onde outras prioridades devem ser consideradas a priori. Na educação, de forma geral, temos que nos preocupar em formar o aluno integralmente, oferecendo a ele oportunidades diversas e interessantes. Assim, a música, longe de formar músicos, tem que priorizar as experiências musicais diversas, como ouvir, dançar, cantar, tocar, refletir, ampliar o repertório, brincar, entrar em contato com músicas brasileiras e de outras culturas. Dessa forma, estaremos garantindo ao aluno experiências ricas e, mesmo que ele queira tocar um instrumento, pode fazê-lo em outros momentos, em outros contextos e para isso estão indicadas as escolas especializadas, os grupos e oficinas musicais.
A partir dessas considerações, podemos observar a importância de lutar por um trabalho musical contextualizado, integrado às outras áreas, que possa fazer parte efetivamente do currículo escolar, deixando de ser repertório para festinhas e comemorações ou adorno para outros projetos dos quais não faz parte. A educação musical precisa ser tratada com importância e respeito dentro da educação e, se desta vez, não voltar ao currículo escolar de outra forma, mais uma vez será deixada de lado e continuará sendo tratada como supérflua.
O ambiente escolar oferece a oportunidade do trabalho em equipe, formada por profissionais de diversas áreas do conhecimento. Para que isso aconteça é preciso criar parcerias entre os profissionais da educação, com disponibilidade para aprender uma nova forma de trabalhar. Parceria é algo que todos os envolvidos precisam querer, não importando de quem seja o primeiro passo, mas sim que haja um primeiro passo.
O trabalho em parceria é um trabalho novo, imbuído de desejo de pesquisa e de busca de novas formas de lidar com o conhecimento. É saber que não existe nada pronto, que tudo está por aprender e todos os caminhos estão para trilhar; que todos podem aprender juntos, na mesma busca de conhecimento.
Criar uma parceria não é fácil e nem simples, mas quando isso acontece, realmente, pode ser muito bom. Não existem fórmulas e nem regras a seguir, mas o desejo e a necessidade de trabalhar junto com alguém, de partilhar alguma coisa, de não correr o risco de ter que pensar tudo sozinho. É saber que todo conhecimento tem muitos lados e pode ser visto por muitos olhares atentos, de vários ângulos, por vários prismas. É acreditar que juntos podemos fazer muito mais, alunos e professores, na busca incessante de enriquecer o nosso universo com fazeres e vivências boas.
A música é privilegiada porque pode permear todas as áreas do conhecimento, sem que para isso tenha que perder as suas especificidades. Com música podemos viajar por diversas épocas da história da humanidade, ressaltar a importância de preservar a natureza, conhecer poemas e cantá-los em canções só para citar alguns entre outros tantos assuntos e interesses escolares. Será um desperdício que se trabalhe com música isoladamente dentro de uma escola, espaço de tantos educadores com vontade de ensinar e aprender! Será um desperdício que continuemos a pensar a educação de forma tão engessada e tão distante de provocar o brilho nos olhos daqueles que aprendem e daqueles que ensinam!
A música não é a redentora do conhecimento, da boa escola ou do bom educador, mas, pode “olhar” para os conteúdos de forma diferenciada porque é arte e como arte transcende e transforma.
Assim, defendo as parcerias porque a união de educadores pensantes e reflexivos pode modificar a educação e modificando a educação podemos modificar a escola e os indivíduos que passam tanto tempo dentro dela, alunos e professores.
Trabalho em parceria há alguns anos, em escolas regulares, e só tenho tido ganhos com isso, tanto para a minha formação como educadora musical quanto para a formação dos meus alunos. Quanto aos outros educadores que trabalham ou trabalharam junto comigo, tenho certeza que muitos também se enriqueceram, especialmente aqueles que realmente se envolveram no trabalho.

* RCN's - Referenciais Curriculares Nacionais
**PCN's - Parâmetros Curriculares Nacionais

sábado, 29 de janeiro de 2011

A MÚSICA NAS ESCOLAS ... continuando ...

Apesar de não concordar com o "ensino" de música nas escolas pelos professores não especialistas, acredito que a música não deva ser considerada como propriedade de músicos ou de educadores musicais! Aliás, a música está em toda parte, o tempo todo, inclusive nas escolas.
A questão é sobre como fazer acontecer o ensino de música nas escolas de forma interessante.
Sabemos que não existem profissionais licenciados em música em número suficiente para suprir as vagas que poderiam existir para as escolas públicas. Sabemos, também, que o professor polivalente ou o professor de educação artística não têm formação específica em música e isso pode ser um entrave para o seu ensino.
Estamos num impasse! Como fazer acontecer, então, a educação musical nas escolas, inserida no currículo escolar?

Acho que a primeira atitude que nós, educadores musicais, devemos tomar é nos unirmos para refletir sobre a situação. Mas, para isso, precisamos reunir toda a população de profissionais que atuam na área musical: bacharelados, licenciados, com formação técnica e outros tantos ...

Observo que diante dessa situação, os profissionais que possuem um diploma de licenciatura em música estão tomando a frente de uma luta que se tornou partidária e excludente. Acho que essa atitude é, no mínimo, elitista e descontextualizada.

Ora, o Brasil é um país de várias culturas e de várias camadas sociais. Existem lugares onde nem mesmo a educação básica acontece. Como exigir que apenas profissionais altamente especializados assumam a educação musical nas escolas?

Acho que não vale, nesse momento, a política do "tudo ou nada" porque todos sairemos perdendo!
Devemos lutar pela inclusão do profissional de música nas escolas, todos aqueles que têm condições de trabalhar nessa área e não apenas os poucos que possuem um diploma universitário. Onde ficariam aqueles que fizeram ótimos cursos técnicos e que já atuam na área há muitos anos? Estaríamos invalidando cursos e escolas importantes, responsáveis pela formação de muitos músicos e professores de música em nosso país!

Acredito na luta pela educação musical, mas uma luta sobretudo humana onde a discriminação não tenha lugar. Acredito que, unidos, podemos conseguir reverter a situação porque, certamente, os profissionais de educação artística e os professores polivalentes devem estar em uma situação muito difícil e precisando de ajuda!


A música já está na escola e sempre esteve! A luta é pela educação musical de qualidade, que tenha como meta principal as vivências musicais!

sábado, 15 de janeiro de 2011

AS PROPRIEDADES DO SOM ... POR QUE PREOCUPAR-SE TANTO COM ELAS?

Ainda é muito difundida a idéia de que o trabalho de musicalização com crianças de educação infantil tem que ser apoiado nas propriedades do som. Encontramos esse conteúdo citado em programas de escolas especializadas em música e em escolas regulares e são muitos os educadores que ainda “treinam” os seus alunos acreditando que estão desenvolvendo neles habilidades muito importantes.
Musicalizar é proporcionar o contato com a linguagem musical de forma ampla, despertando a sensibilidade e a consciência para a existência de um universo sonoro rico e interessante. Musicalizando auxiliamos a criança na construção de seu conhecimento musical.
Em qualquer trabalho musical está implícito o trabalho com as propriedades do som já que são suas características inerentes e, portanto, inseparáveis do som. Não existe som que não tenha qualidades e não existem as qualidades separadas do som.
Quando escolhemos apresentar o universo sonoro-musical para as crianças, precisamos refletir sobre a imensa responsabilidade que temos em nosso trabalho. O início de qualquer coisa determina, muitas vezes, o caminho a seguir, ou seja, gostar ou não de música está ligado, muitas vezes, à forma como elas – a música e a criança – foram apresentadas. Se, ao apresentarmos a música à criança, tivermos em mente que isso tem que ser muito bom, ou seja, que as experiências precisam ser gratificantes, certamente estaremos no caminho certo. Mas só isso ainda não basta: temos que pensar também que as experiências têm que ser significativas, ou seja, elas precisam fazer sentido para a criança.
Quando penso em um trabalho de musicalização, penso em exploração sonora, pesquisas, criações, invenções, brincadeiras, canções ... entre outras tantas manifestações que a música nos oferece. Por que definir e classificar se ainda precisamos explorar? Por que limitar se podemos expandir? Por que especializar se podemos nos aventurar em um mundo tão rico de possibilidades?
Acho que as propriedades do som são menos importantes do que a pompa que o próprio nome nos traz. Parece que na ânsia de provar que temos coisas sérias a ensinar para as crianças, escolhemos assuntos técnicos demais. Ao explorar, interpretar, criar e apreciar estaremos, com certeza, nos deparando com o timbre, com a altura, com a intensidade e com a duração do som e, se isso acontecer dentro de um contexto, podemos apontá-las, por que não? Mas, se ficarmos presos a treinar os ouvidos para perceber se o som é grave ou agudo, se é forte ou fraco, se é longo ou curto empobreceremos muito o nosso trabalho.

Como diz Rubem Alves, tão sabiamente:
“Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes.”

Assim também deve ser com as propriedades do som! Primeiro é preciso ouvir, cantar, dançar, tocar, explorar, brincar com a música. Para as crianças devemos apresentar a música em sua simplicidade para depois, com o tempo, sentirem-se à vontade para saber mais!
Se conseguirmos despertar em nossos alunos a vontade de apreciar música, mesmo que não se tornem músicos, teremos feito um ótimo trabalho! Se as crianças conhecerem repertórios interessantes e variados, se gostarem de cantar, de brincar de roda, de dançar com os amigos, se tiverem interesse pelas tantas músicas que nos rodeiam durante toda a nossa vida, certamente serão amantes da música e certamente terão levado consigo uma sementinha que alguém plantou, lá na educação infantil quando, pela primeira vez, foram apresentados formalmente à linguagem musical. Formalmente porque antes, muito antes, já haviam sido acalentados com canções de ninar, já haviam brincado de serra serra no colo do pai ou da avó, já haviam se interessado por algum objeto que se parecesse com um tambor e, batucando, descoberto que podiam fazer um som e que isso era muito bom!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

EDUCAÇÃO MUSICAL NAS ESCOLAS ... MAIS UMA MENTIRA!

A iniciativa de incluir a música no currículo da escola regular é um grande avanço para a área musical e reconhece a importância da música dentro da educação. Como educadora musical, trabalhando em escolas regulares há quase 13 anos com educação musical, acolho a iniciativa com alegria e preocupação, o que explicarei mais à frente.
Fazendo um breve retorno à história da música no Brasil, por volta de 1930, Heitor Villa-Lobos, convidado por Anísio Teixeira, implanta a música e o Canto Coral nas escolas. Em 1961, 30 anos depois, com sua morte, a música passa a ser matéria opcional nessas mesmas escolas. Dez anos depois, a música foi incluída na disciplina Educação Artística, junto com trabalhos manuais e desenho, sendo ensinada (?) aos alunos pelo professor formado nessa área ou pelo professor polivalente. Com o tempo e com a ineficiência do ensino da música pelo professor não habilitado para exercer a função, a música passou a ser considerada supérflua e desnecessária, sendo relegada a segundo plano dentro das escolas. Na área de Artes, prevaleceram sempre as Artes Plásticas em detrimento da Música. A música ficou relegada a um repertório de festinhas em datas comemorativas.
Atualmente existe um projeto de lei já aprovado que prevê a música como disciplina obrigatória nas escolas públicas, no ensino fundamental e médio. No entanto, o projeto também prevê que a música seja ministrada por professores sem formação musical.
Retomando o primeiro parágrafo, acolho a iniciativa com alegria e preocupação. Ao mesmo tempo em que há uma valorização da música, tornando-a inserida na escola, motivo da minha alegria, há também a sua desvalorização por considerar que o profissional sem formação musical possa ser responsável pelas aulas de música, motivo da minha preocupação.
Todos se lembram quando foi elaborado um documento chamado de “Referenciais Curriculares Nacionais”, os RCN’s (para a Educação Infantil) e os “Parâmetros Curriculares Nacionais”, os PCN’s (para o ensino Fundamental e Médio). Esses documentos incluem a área de música e a sua elaboração contou com a participação de educadores musicais importantes no cenário nacional. Ora, torna-se uma incoerência criar um documento nacional para nortear a Educação, em geral, e a Educação Musical, em particular e não contar com os profissionais especialistas na área para implantá-lo!
A minha alegria passa a ser pequena diante de tantos motivos para entristecer-me! É preocupante concluir que um profissional que não tem formação musical assumirá as aulas de música e será grande a chance da música continuar como está: repertório de datas comemorativas. Mas aí surge a minha maior preocupação: o surgimento dos livros didáticos e dos cursos para habilitar esse profissional para trabalhar com música!
O educador musical consciente sabe que nenhum livro didático e nenhum curso rápido habilitarão qualquer profissional que não seja da área para trabalhar efetivamente com música. Também sabe que deve defender a sua profissão e lutar para que exista o cargo de Professor de Música nas escolas, único profissional que poderá garantir um ensino musical de qualidade.
Será que podemos formar rapidamente um professor de matemática? De história? De geografia? De dança? De educação física? Será que um livro didático de matemática garante a qualidade do ensino para os alunos, usado por qualquer profissional, mesmo sem formação pedagógica na área? Sabemos que não! Por que, então, aceitamos o absurdo dos cursos e livros criados para esse fim?
A música é uma linguagem, com suas especificidades. Não podemos reduzi-la a meros exercícios de percepção sonora ou de confecção de instrumentos musicais. Seria o mesmo que reduzir o ensino da língua portuguesa ao aprendizado de regras ortográficas por alguém que sequer sabe ler!
Nós, educadores musicais, temos que lutar para que o ensino de música seja realmente inserido no currículo escolar, com qualidade, com conteúdo relevante e através do professor especialista. Não podemos aceitar que profissionais sem escrúpulos ou oportunistas usem esse momento para vender as suas idéias e seus produtos a despeito de uma ética profissional!
Se não há a possibilidade de ter o profissional adequado para ensinar música, que não se faça esse estardalhaço todo dizendo que a música voltou para as escolas! Não voltou e desse jeito, nunca voltará! Villa-Lobos, apesar de ter sido criticado por seu espírito nacionalista, foi o único que inseriu o ensino de música nas escolas.
O resto... foi só balela!

domingo, 12 de setembro de 2010

APRECIAÇÃO MUSICAL

O TRENZINHO DO CAIPIRA (H. VILLA-LOBOS)


Apreciar uma música é uma atividade que exige concentração e atenção. Uma criança dificilmente ouve música em silêncio e com atenção se não nos dedicamos a prepará-la apropriadamente para isso. Despertar o interesse pela escuta é uma tarefa que antecede a escuta propriamente dita. Assim, contar uma história, falar sobre a peça a ser ouvida de forma interessante e lúdica, envolvendo a criança para que sinta vontade de ouvir são atitudes que facilitam o processo de escuta musical.
A peça de Villa-Lobos, O Trenzinho do Caipira (a Tocata das Bachianas Brasileiras no. 2), é extensa e complexa, por se tratar de uma peça instrumental. No entanto, ela pode ser um repertório rico e interessante a ser apreciado por crianças bem pequenas.
O trem é de extremo interesse das crianças e tudo o que envolve esse assunto chama a sua atenção. Brincar de trem, ouvir histórias de trem, produzir os sons do trem (apito, o som das ferragens), é muito prazeroso e pertence ao seu repertório de brincadeiras desde muito cedo. Na escola, principalmente, brincar de trem faz parte das atividades cotidianas e auxilia no desenvolvimento de muitas habilidades.
Quando pensamos em apreciar uma obra musical instrumental, temos que envolver a criança para que consiga ouvir adequadamente, como já dissemos anteriormente. Pensando nessa peça específica, de Villa-Lobos, criamos algumas atividades:
> Brincar de trem, ouvindo uma canção cantada folclórica;
> Incluir instrumentos musicais e sons vocais na brincadeira, assim como momentos específicos da canção onde o trem para ou anda, apita ou desacelera;
> Explorar diversos materiais e instrumentos musicais para produzir os possíveis sons de um trem, observando os momentos de partida e de chegada do trem (acelerando e rallentando);
> Ouvir a peça de Villa-Lobos em momentos de relaxamento;
> Ouvir a peça novamente e fazer uma “viagem de trem” enquanto ouvem: um adulto vai à frente do trem para que possa parar e acelerar em momentos adequados da peça;
> Conversar com as crianças sobre essa “viagem” chamando a atenção para os momentos onde o trem apitou, quase parou, parou e por onde ele teria passado;
> Ouvir, novamente, imaginando a viagem de trem que estariam fazendo se fossem passageiros desse trem: o que estariam vendo pela janelinha do trem: desenhar a paisagem que estariam vendo pela janela;
> Ouvir, durante todo o processo, outros arranjos da peça: cantada por cantores diferentes, tocada com diversos instrumentos.

domingo, 6 de setembro de 2009

CONSTRUÇÃO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS

Construir instrumentos musicais a partir de sucatas e outros materiais pode tornar-se atividade interessante para complementar algum projeto de estudo.  Além de construir, devemos usar os instrumentos em contextos musicais significativos como acompanhar canções ou criar peças musicais com as crianças. A customização do material desenvolve diversas habilidades proporcionando às crianças o contato com a pintura, a colagem, o desenho e outras técnicas artísticas, desenvolvendo ainda  a observação, a concentração, o senso estético e a cooperação entre todos no grupo.

RECO-RECOS DE BAMBU

RECO-RECOS DE BAMBU

CHOCALHOS DE CABAÇAS

CHOCALHOS DE CABAÇAS

TAMBORES

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